Fragmento da página dedicada a Poseidon no site Theoi.
Tradução de Janilson Gomes
para ler o conteúdo na íntegra e em inglês Clique Aqui
Poseidon é deus do mar, rios, inundação e seca, terremotos e cavalos. Seu nome parece estar conectado com potos, pontos e potamos, consoante ele ser o deus do elemento fluído. (Müller, Proleg. p. 290.) Filho de Cronos e Reia (daí ele ser chamado Kronios e, por poetas latinos, Saturnius, Pind. Ol. vi. 48; Virg. Aen. v. 799.), e portanto irmão de Zeus, Hades, Hera, Héstia e Deméter, foi determinado governar o mar. (Hom. Il. xiv. 156, xv. 187, &c.; Hes. Theog, 456.) Como seus irmãos e irmãs, ele foi, após o nascimento, engolido pelo seu pai Cronos, porém vomitado de volta. (Apollod. i. 1. § 5, 2. § 1.). De acordo com outros relatos ele foi ocultado por Reia ao nascer junto a um rebanho de cordeiros, e sua mãe fingiu ter parido um jovem cavalo, o qual entregou a Cronos para ser devorado. Uma fonte no bairro de Mantineia, onde acredita-se ter esse evento ocorrido, tem seu nome derivado de “fonte dos cordeiros” ou Arne. (Paus. viii. 8. § 2.) De acordo com Tzetzes (ad Lycoph. 644) a ama de Poseidon chamava-se Arne; quando Cornos procurou por seu filho, Arne mentiu, declarando não saber onde ele estava, e daí credita-se a ela o nome da cidade. Ainda por outros relatos, foi o deus educado pelos telquines, a pedido de Reia. (Diod. v. 55.)
Nos mais antigos poemas, Poseidon é descrito, de fato, como igual a Zeus em dignidade, porém mais fraco. (Hom. Il. viii. 210, xv. 165, 186, 209; comp. xiii. 355, Od. xiii. 148.). Por isso encontramos sua ira quando Zeus, com palavras de altivez, tenta intimidá-lo; Ou melhor, ele chegou a ameaçar seu irmão maior, e uma vez conspirou com Hera e Atena para acorrentá-lo (Hom. Il. xv. 176, &c., 212, &c.; comp. i. 400.); ainda assim, por outro lado, também encontramos seu aspecto complacente e submisso a Zeus (viii. 440).
O palácio de Poseidon era nas profundezas do mar próximo a Aegea na Eubeia (xiii. 21; Od. v. 381), onde ele mantém seus cavalos com cascos de ouro e crinas de bronze. Com esses animais ele comanda uma carruagem através das ondas do mar, que se tornam calmas quando ele se aproxima, e os monstros das profundezas o reconhecem e vem brincar com seu veículo. (Il. xiii. 27, comp. Virg. Aen. v. 817, &c., i. 147; Apollon. Rhod. iii. 1240, &c.) Geralmente ele mesmo coloca os cavalos em sua carruagem, porém em outros momentos ele é assistido por Anfitrite (Apollon. Rhod. i. 1158, iv. 1325; Eurip.Androm. 1011; Virg. Aen. v. 817.). Ainda que habitasse o mar, ele continuava a aparecer no Olimpo durante as assembleias dos deuses (Hom. II. viii. 440, xiii. 44, 352, xv. 161, 190, xx. 13.)
Poseidon, juntamente com Apolo, construíram para Laomedonte a muralha de Tróia (vii. 452; Eurip. Androm.1014), daí Tróia ser chamada Neptunia Pergama (Netuno e Poseidon sendo identificados, Ov. Fast. i. 525, Heroid. iii. 151; comp. Virg. Aen. vi. 810.) Embora ele tenha sido de outras maneiras gentil aos grego, ficou enciumado ao ver a muralha que eles construíram ao redor de seus navios, e lamentou a ingloriosa forma com a qual as muralhas que ele próprio ergueu acabaram caindo nas mãos dos gregos. (Hom. Il. xii. 17, 28, &c.) Quando Poseidon e Apollo terminaram de construir a muralha de Troia, Laomedonte recusou-se a recompensá-los da forma que estava estipulado, e ainda os demitiu com ameaças (xxi. 443); ao que Poseidon enviou um monstro marinho, que estava prestes a devorar a filha de Laomedonte, quando foi morto por Herácles.
Por essa razão, Poseidon, assim como Hera, nutriam um ódio implacável contra os troianos, do qual nem mesmo Eneias foi poupado (Hom. Il. xx. 293, &c.; comp. Virg. Aen. v. 810; Il. xxi. 459, xxiv. 26, xx. 312, &c.). O deus do mar tomou postura ativa na guerra contra troia, lutando ao lado dos gregos, algumas vezes testemunhando a disputa como espectador dos montes da Trácia, outras vezes interferindo pessoalmente assumindo a aparência de um herói mortal e encorajando os gregos, enquanto Zeus favorecia os troianos. (Il. xiii. 12, &c., 44, &c., 209, 351, 357, 677, xiv. 136, 510.) Quando Zeus permitiu que os deuses assistissem qual lado quisessem Poseidon juntou-se aos gregos, tomando parte na guerra e fazendo a terra tremer; ele opôs-se a Apolo, quem, contudo, não gostava de estar lutando contra seu tio. (Il. xx. 23, 34, 57, 67, xxi. 436, &c.) Na Odisseia, Poseidon aparece como hostil a Odisseu, impedindo-o de voltar para casa como castigo por ter cegado Polifemo, filho de Poseidon com a ninfa Teosa. (Hom. Od. i. 20, 68, v. 286, &c., 366, &c., 423, xi. 101, &e., xiii. 125; Ov.Trist. i. 2. 9.)
Como governador do mar, ele é descrito tanto causando tempestades como garantido uma viagem tranquila e salvando aqueles que estavam em perigo. Toda as outras divindades marinhas obedeciam a ele. Uma vez que o mar circunda e contem a terra, ele é descrito também como o deus que segura a terra (gaiêochos), e aquele que tem o poder de balançá-la (enosichtôn, kinêtêr gás).
Ele era ainda considerado o criador dos cavalos, e acredita-se que ele tenha ensinado aos homens a arte de dominar esses animais com a rédea, e ser o protetor e criador das corridas de cavalos. (Hom. Il. xxiii. 307, 584; Pind. Pyth. vi.50 ; Soph. Oed. Col. 712, &c.) Por isso ele também é representado no dorso de um cavalo, ou comandando uma carruagem puxada por dois ou quatros equinos, sendo designado nessas ocasiões pelo epíteto hippios, ippeios ou hippios anax. (Paus. i. 30. § 4, viii. 25. § 5, vi. 20. § 8, viii. 37. § 7 ; Eurip.Phoen. 1707; comp. Liv. i. 9, onde ele é chamado equester.) Como consequência da sua conexão com os cavalos, ele era considerado amigo dos cocheiros (Pind. Ol. i. 63, &c.; Tzetz. ad Lyc. 156), e ele mesmo transformou-se em um garanhão, com fim de enganar Deméter.
A tradição comum sobre Poseidon ser o criador dos cavalos é a seguinte: quando Poseidon e Atena disputaram qual deles iria nomear a capital da Ática, os deuses decidiram que deveria ser aquele que desse aos homens o presente mais útil. Poseidon criou o cavalo e Atena criou a oliveira, de tal forma que a capital da Ática passou a se chamar Atenas. (Serv. ad Virg. Georg. i. 12.) Já de acordo com outros, Poseidon não criou o animal na Ática, mas sim na Tessália, onde ele também deu a Peleu seus famosos cavalos. (Lucan, Phars. vi. 396, &c.; Hom. Il. xxiii. 277; Apollod. iii. 13. § 5.)
O símbolo do poder de Poseidon era um tridente, ou uma lança de três pontas, que ele usava para destruir rochas, convocar ou dissipar tempestades, tremer a terra e outras coisas mais. Heródoto (ii. 50, iv. 188) atesta que o nome e o culto a Poseidon foi importado pelos gregos da Líbia, mas que provavelmente ele era uma divindade de origem pelasgas, e originalmente uma personificação do poder fertilizador da água, daí a transição para deus do mar não foi difícil.
É notável como as lendas desse Deus estão ligadas com a disputa pela posse de certos países com outros Deuses. Aquela onde ele, na disputa por Ática, finca seu tridente no chão da acrópole, fazendo surgir uma fonte de água do mar e inundando a cidade, após ter perdido-a para Atena que a recebeu dos deuses após ter criado a oliveira. (Herod. viii. 55; Apollod. iii. 14. § 1 ; Paus. i. 24. § 3, &c.; Hygin. Fab. 164.). Também com Atena ele disputou a posse de Trezena, e seguindo ordens de Zeus dividiu com ela a cidade. (Paus. ii. 30. § 6). Com Hélio ele disputou a soberania sobre Coríntio, ficando com ele a cidade e o istmo, e indo a acrópole para Hélio. (ii. 1. § 6.) Disputou a posse da Argólida com Hera, sendo decido por Inácio, Cefiso e Astério que a posse iria para a Deusa. Como represália, Poseidon fez os rios desses deuses-rios secarem. (ii. 15. § 5, 22. § 5; Apollod. ii. 1. § 4.) Com Zeus, por último ele disputou Egina,e Naxos com Dionísio. (Plut. Sympos. ix. 6.) Por um tempo Delfos o pertenceu, juntamente à Ge, mas Apolo o deu Caularia como compensação. (Paus. ii. 33. § 2, x. 5. § 3; Apollon. Rhod. iii. 1243, with the Schol.)
Outras lendas também merecem ser mencionadas. Ao lado de Zeus ele lutou contra Cronos e os titãs. (Apollod. i. 6. § 2; Paus. i. 2. § 4.) Além disso esmagou os Centauros quando perseguiram Herácles, sob uma montanha na Leucócia, a ilha das Sereias. (Apollod. ii. 5. § 4.) Junto com Zeus ele cortejou a mão de Tétis, mas ele se retirou quando Têmis profetizou que o filho de Tétis seria mais poderoso que seu pai. (Apollod. iii. 13. § 5; Tzetz. ad Lyc. 178.) Quando Ares foi capturado na rede de Hefesto, foi Poseidon que pediu por sua soltura (Hom.Od. viii. 344, &c.) porém o Deus do Mar levou Ares à julgamento no Aeropago, pelo Deus da Guerra ter matado seu filho Halirrhothius (Apollod. iii. 14. § 2.). A pedido de Minos, rei de Creta Poseidon fez surgir do mar um boi, que foi prometido a sacrifício pelo rei; porém Minos traiçoeiramente escondeu o animal entre um rebanho de carneiros, o Deus puniu Minos fazendo com que sua filha Pasífae se apaixonasse pelo boi. (Apollod. iii. § 3, &c.) Periclimeno, que era ou um filho ou um neto de Poseidon, recebeu dele o poder de assumir várias formas. (i. 9. § 9, iii. 6. § 8.).
Poseidon era casado com Anfitrite, com quem ele teve três filhos, Tritão, Rode e Benthesicyme (Hes. Theog. 930; Apollod. i. 4. § 6, iii. 15. § 4); porém ele possuía além desses um vasto número de filhos com outras divindades e mortais.
Ele é mencionado por uma variedade de sobrenomes, tanto em alusão às lendas que contam , quanto à sua natureza de Deus do mar. Seu culto era presente em toda a Grécia e sul da Itália, sendo especialmente reverenciado no Peloponeso (onde é chamado oikêtêrion Poseidônos) e nas cidades costeiras de Ionic. Os sacrifícios a ele oferecidos geralmente eram bois brancos e pretos (Hom. Od. iii. 6, Il. xx. 404; Pind. Ol. xiii. 98; Virg. Aen. v. 237); ainda que javalis e carneiros selvagens também fossem sacrificados. (Hom. Od. xi. 130, &c., xxiii. 277; Virg. Aen. iii. 119.) Na Argólida cavalos com cabresto eram atirados da fonte Deine, em forma de sacrifício (Paus. viii. 7. § 2), e corridas de carruagens e cavalos eram celebradas em sua honra no istmo de Coríntio (Pind. Nem. v. 66, &c.). A Panionia, ou o festival de todos os inoanos próximo a Mycale, era celebrado em honra a Poseidon. (Herod. i. 148.)
Na arte Poseidon pode ser facilmente reconhecido pelos seus atributos, o golfinho, o cavalo ou o tridente (Paus. x. 36. § 4) e ele era frequentemente representado em grupo com Anfitrite, nereiádes, golfinhos, os Dióscuros, Palemon, Pégaso, Belerofonte, Tálassa, Ino e Galeno (Paus. ii. 1. § 7.). Sua figura não apresenta a calma majestosa que caracteriza seu irmão Zeus. As estatuas, assim como o mar, apresentam ora o Deus em uma violenta agitação, ora em repouso.